Estrutura, ciência e precisão: como o Núcleo de Engenharia da Polícia Científica desvenda tragédias e acidentes em SP
Linha fina: Equipe especializada, formada por engenheiros e bióloga, atua em cerca de 3 mil ocorrências por ano, usando tecnologia avançada para reconstruir cenários e apontar causas.
O Núcleo de Engenharia da Polícia Técnico-Científica de São Paulo desempenha um papel essencial na investigação de tragédias, acidentes e crimes que envolvem estruturas, máquinas, veículos e impactos ambientais. Casos marcantes, como a queda do avião da TAM em 2007, o desabamento do edifício Wilson Paes de Almeida em 2018 e a explosão em uma residência no Tatuapé em 2025, passaram pelas mãos dos peritos do setor.
A equipe é formada por 14 peritos criminais — 13 engenheiros de diferentes especialidades e uma bióloga — responsáveis pela produção de cerca de 3 mil laudos por ano, abrangendo 54 naturezas periciais. Entre elas estão desastres aéreos, acidentes de trabalho, incêndios, explosões, perturbação de sossego, além de apoio técnico a outros 11 Núcleos de Criminalística do estado.
Como funciona uma perícia de engenharia?
As análises realizadas pelos peritos utilizam equipamentos de alta precisão, como sonômetros, drones térmicos e Scanners 3D, permitindo a reconstrução detalhada de cenários complexos. A equipe verifica condições físicas, comportamento de materiais, funcionamento de máquinas e até consulta manuais técnicos quando necessário.
“Estudamos o manual também, quando é necessário, para ver a parte de segurança, a aplicação, se estava sendo usado conforme as especificações”, explica o perito criminal e engenheiro civil Fábio André Massa.
Equipamentos de informática são a única exceção: nesses casos, a perícia é conduzida por um setor especializado.
A rotina é marcada por ocorrências imprevisíveis e deslocamentos intensos — algumas equipes percorrem até 300 quilômetros em uma única noite. Com avanços tecnológicos como carros elétricos e painéis solares, a atualização constante tornou-se obrigatória.
O diretor do Núcleo de Engenharia, engenheiro elétrico Maurício Lazzarin, ressalta um desafio crescente: “Um dos grandes problemas que vão surgir daqui para frente são incêndios nesses veículos. Hoje, o Corpo de Bombeiros está desenvolvendo uma pesquisa para fazer uma normativa e nós estamos com essa parceria com eles”.
Quando a perícia se une ao meio ambiente
Para delitos ambientais, o Núcleo conta com a bióloga Talita de Cássia Glingani Sebrian, responsável por análises georreferenciadas que orientam a compreensão das áreas periciadas.
“Eu preciso ter uma noção se vou ter que buscar naquele lugar um rio, um córrego… Isso é analisado com base na legislação para dizer se é uma área de preservação permanente”, explica.
Dos vestígios à ciência: reconstruindo fatos
Muitos vestígios são destruídos durante o próprio evento, como incêndios e quedas de aeronaves. A equipe trabalha com reconstruções científicas para identificar causas e responsabilidades.
“Nenhum laudo sai sem ter uma base científica forte. Isso é importante para a gente”, reforça Lazzarin.
Engenharia e perícia: duas áreas que se complementam
O perito Leandro Dias Goulart, engenheiro de produção mecânica e especialista em desastres aéreos, destaca a ligação natural entre engenharia e investigação criminal:
“O curso de engenharia já prepara o profissional a olhar detalhes e dar soluções. Isso tem muito a ver com a perícia: são detalhes, são minúcias.”
